O aumento alarmante de infartos em pessoas jovens tem gerado preocupações entre os profissionais de saúde, que destacam características específicas dos infartos nesta faixa etária. De acordo com o cardiologista Frederico Nacruth, a ausência de uma rede de colaterais, ou seja, os ramos das artérias coronárias que irrigam o músculo cardíaco, é um dos principais fatores que tornam o infarto em jovens mais fatal e agressivo.
À medida que envelhecemos, nossas coronárias desenvolvem mais ramos colaterais, que ajudam a "abraçar" o músculo cardíaco, proporcionando uma maior irrigação sanguínea. Em contraste, os jovens possuem menos desses ramos, o que, segundo o especialista, aumenta a chance de um infarto ser fatal. "Quando um infarto ocorre em um jovem, ele tende a ser muito mais grave, pois a falta de colaterais significa que o coração não tem uma reserva de vasos sanguíneos para compensar a obstrução", explica Nacruth.
Esse fator faz com que o infarto em jovens tenha uma evolução muito mais rápida e frequentemente leve a complicações como arritmias ou insuficiência cardíaca. Além disso, o infarto muitas vezes é desencadeado por esforço físico, o que aumenta o risco de uma morte súbita ou parada cardíaca durante atividades como treinos. Para os idosos, a situação é diferente, pois os ramos colaterais ajudam a reduzir a gravidade do infarto e a aumentar as chances de sobrevivência.
Outro fator crucial no aumento de infartos em jovens é o chamado "ambiente obesogênico", um termo que descreve um ambiente onde o acesso a alimentos ultraprocessados e o sedentarismo são predominantes. Nacruth destaca que, entre a década de 90 e o início dos anos 2000, a prevalência de obesidade entre jovens de 5 a 19 anos quadruplicou. "Esse ambiente obesogênico, com muito sedentarismo, aumento do tempo de telas, alimentação inadequada e o consumo de ultraprocessados, tem sido um dos principais responsáveis pelo aumento de doenças cardiovasculares entre os jovens", afirma o cardiologista.
A modernidade, com suas facilidades e influências culturais, contribui para o consumo excessivo de alimentos ricos em calorias, açúcar e gorduras, geralmente encontrados em fast foods e alimentos ultraprocessados. Esses produtos, além de calóricos, estimulam a liberação de dopamina, o que cria uma espécie de dependência alimentar nos jovens. "Hoje, muitas das guloseimas consumidas por jovens são feitas com glucose, que gera mais liberação de dopamina, levando à dependência do açúcar", explica Nacruth. Esse estilo de vida, aliado ao sedentarismo e ao consumo excessivo de alimentos não saudáveis, tem gerado um aumento significativo no risco cardiovascular e de doenças como o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC) entre a população jovem.